terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Seria mais fácil...

Seria tão fácil Senhor, 
abandonar a luta por um mundo melhor...
Este mundo que não pára de nascer!
Seria tão fácil 
renunciar às reuniões extenuantes, 
às discussões, 
às exposições, 
a essas incontáveis ações e esses compromissos 
ditos indispensáveis,
os quais, em certas noites de fadiga extrema, 
duvido seriamente 
que sirvam meus irmãos.
Seria tão fácil 
ouvir estas vozes que me envolvem 
e que se dizem sábias, amigáveis, 
até mesmo afetuosas, 
vozes que se me dirigem assim:
«estás a precipitar-te»
«lutas em vão»
«passas ao lado do essencial».
Vozes que murmuram insidiosamente 
nas minhas costas
«ele gosta disto»
«está-lhe no sangue»
«não pode passar sem isso».
Seria tão fácil 
ceder à falta de coragem 
e vesti-la de boas e pias intenções, 
como a dos deveres esquecidos 
e das crises de fé.
Seria tão fácil 
ficar em casa 
ter de novo os serões livres 
e os fim de semana disponíveis 
e o sorriso das crianças 
e os braços da namorada.
Seria tão fácil sentar-me 
e curar as feridas após as duras batalhas, 
repousar as pernas, 
os braços, a cabeça 
e o meu coração fatigados, 
e acolher a paz longe do campo de combate, 
e escutar , enfim, o silêncio, 
no qual - segundo dizem - 
falas aos Teus fiéis.
Seria mais fácil, Senhor, 
ficar à margem e não sujar as mãos, 
ver os outros baterem-se e debaterem-se 
aconselhá-los e lastimá-los, 
julgá-los... e rezar por eles.
Seria mais fácil...

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