A vida é cheia de desafios e muitos desses são grandes lições para nós. Quando encontrei Gail, um cantora cega, vi um novo desafio e pensei que eu seria a professora. Estranho como as coisas mudam.
Eu era professora de dança. Minha parceira e eu decidimos que seria divertido praticar em um baile com banda ao vivo. Nós não sabíamos que éramos assunto de interesse para a banda até que eles se aproximaram de nós durante um dos intervalos. Admirando nosso trabalho, perguntaram se poderíamos passar algum tempo com as três cantoras do grupo e lhes ensinar alguns de nossos passos, de forma a acentuar a apresentação das cantoras. Concordamos e marcamos para o dia seguinte.
Minha parceira me pediu para que eu ficasse com Gail enquanto ela ficava com as outras duas. O grande desafio para mim seria exatamente descrever cada movimento para Gail. Sendo cega, Gail nunca tinha nos visto dançar mas demonstrava confiança. Ela também acreditava que suas parceiras aprenderiam.
Eu fui do sentimento de compaixão à admiração por Gail. Ela era capaz de realizar tudo o que suas colegas faziam com a mesma quantidade de tempo. Era uma mulher surpreendente e a sessão com Gail me ensinou muito mais do que ensinei.
Algumas semanas mais tarde, enquanto ensinava um grupo de adultos, notei que a maioria deles passavam muito tempo olhando para meus pés, ou para os próprios pés ou para os pés de alguém à frente. A lembrança de Gail veio-me à mente e compreendi que ela tinha aprendido tão rapidamente porque ela não usava os olhos. A mensagem ia do cérebro direto aos músculos.
Contei ao grupo sobre Gail e sugeri que tentássemos algo novo; fingir que não podíamos ver. Repassamos os passos algumas vezes e marquei cada movimento com uma palavra chave. Então focamos numa mancha na parede e fomos dançar usando apenas as palavras chave para lembrar nossos cérebros do que queríamos que nossos pés fizessem. Invariavelmente e com consistência inacreditável os estudantes aprenderam a dança muito mais rápido do que o normal.
Nunca mais encontrei Gail, mas suas lições de dança me ensinaram algo que eu usaria repetidas vezes. A lição eventualmente ajudou centenas de estudantes a aprender melhor e assim sentirem-se mais confiantes. Compreendo hoje o presente de Gail.
Sem Gail, duvido que teria descoberto um novo método para ensinar dança. Mas mais importante do que isso, sua atitude mostrou-me que nós não devemos ter medo das coisas que não podemos ver e não conhecemos. Gail não via a si mesma como corajosa, aprendendo a dançar apesar da cegueira, em vez disso ela viu os novos desafios como uma oportunidade de apreciar mais a vida.
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